Em um mundo globalizado, as oportunidades em mercados externos podem suplementar as do mercado interno. Em geral, os que aproveitam essas oportunidades são grandes corporações que têm a envergadura e os recursos para alcançá-las diretamente. Existem agências de promoção de exportações e algumas efetivas embaixadas e consulados que procuram ajudar empresas médias e pequenas a participar do esforço exportador. Essa ação é crítica para os países do Hemisfério Sul, mas necessita ser reforçada com instrumentos complementares que ajudem a materializar as oportunidades que se vão identificando.Nos mercados internacionais, hoje, competem grandes corporações transnacionais e outras menores que ocupam nichos que as grandes não podem aproveitar. Competem as empresas junto com fornecedores, distribuidores e um Estado que estabelece regulações e provê infraestrutura econômica e social. Isto é, se bem a iniciativa corporativa seja primordial, são redes produtivas e infraestrutura de apoio, definitivamente, sistemas econômicos, que competem em nível internacional para se fazerem de oportunidades e cotas de mercado.
Desenvolver competitividade
Para participar desse processo, é imprescindível desenvolver competitividade. Não ficar amarrados a estáticas vantagens competitivas, mas trabalhar ativamente para criar novos promissores espaços de competitividade. Isto implica encarar desafios em várias frentes, incluindo alguns que pareceriam não afetar a competitividade quando o fazem, como consolidar a coesão interna, melhorar a orientação e efetividade das políticas públicas, abater a corrupção e abater as organizações delitivas.
Se a isto somamos a fragilidade e a pequena escala da imensa maioria de nossos empreendimentos produtivos, emerge uma sensação de desânimo. Para micro, pequenos e uma maioria de médios produtores, é difícil cogitar aproveitar oportunidades internacionais quando com frequência não logram aproveitar oportunidades em sua própria vizinhança. É que não somente carecem de recursos financeiros, mas também de acesso ao conhecimento, à informação, aos contatos, a modernas engenharias de negócios; dispõem de limitada capacidade de gestão e modesto apoio quanto à infraestrutura produtiva e social.
Não obstante, não é uma opção renunciar a enfrentar os desafios contemporâneos. Cabe trabalhar desde nossas circunstâncias, mas explorando novas formas de nos organizar que permitam resolver problemas de escala, de produtividades, de equidade na distrubuição de resultados. Também provermo-nos de instrumentos que permitam conectar a identificação de oportunidades internacionais com seu aproveitamento por parte de pequenos produtores.
Orientar oportunidades para a pequena produção
Cada oportunidade requer ser trabalhada tanto na fronte externo quanto no interno. Por um lado, é essencial desenvolver no país uma capacidade produtiva apropriada para encarar os desafios de produzir para outros mercados com respeito à qualidades, quantidades, tempos de entrega, apresentação e preços. Por outro lado, é imprescindível conhecer o mercado externo selecionado, contar com apropriados canais de comercialização, impor uma marca, assegurar pagamentos e enfrentar a necessidade de investir em publicidade e eventuais seguimentos.
Estes e outros requerimentos fazem parte da exportação uma operação complexa que, para ser bem encarada, requer dispor de adequados conhecimentos, organização, gestão, contatos e financiamento. Daí que a participação dos pequenos produtores na exportação termina sendo relativamente reduzida apesar dos valiosos esforços desprendidos para estabelecer consórcios de exportação e facilitar sua presença em feiras e exposições.
Nesse contexto, faltam instrumentos que possam ajudar a materializar oportunidades em benefício dos setores da base da pirâmide socioeconômica. Isto é, conformar equipes capazes de identificar oportunidades em mercados externos e possam logo, por si mesmas, ou por meio de terceiros, mobilizar nos países empreendimentos inclusivos que as aproveitem. Essas unidades promotoras de exportações que geram renda e empregos para famílias da base da pirâmide socioeconômica são as que chamamos desenvolvedoras de oportunidades internacionais.
Os empreendimentos inclusivos assistidos pelas desenvolvedoras estão conformados por distintos tipos de atores econômicos que se associam trazendo cada um o seu aporte e, nessa complementação, geram grande valor agregado que, de outra forma, seria menor ou não existiria. Os pequenos produtores constituem a base produtiva do empreendimento e trabalham com dois tipos de sócios estratégicos, diferentes ainda que complementares: por um lado, os que trazem conhecimento de gestão, comercial e tecnológico e, por outra, os que a partir da Diretoria asseguram um rumo e agregam condições de viabilidade ao empreendimento por meio do provimento de financiamento, contatos e acesso a mercados assim como garantindo equidade na distribuição de resultados.
Em síntese, existem oportunidades internacionais que não conseguem ser aproveitadas para beneficiar o enorme universo de setores de baixa renda. Identificar uma oportunidade externa que possa beneficiar pequenos produtores faz parte de um amplo conjunto de ações que é necessário desenvolver. Articular empreendimentos inclusivos com o esforço exportador é uma inovação estratégica para enfrentar o duplo desafio de aproveitar a oportunidade externa e, ao mesmo tempo, contribuir para melhorar a equidade ao interior de nossas sociedades. Como isto não acontece espontaneamente, necessitamos dispor de um instrumento proativo e especializado que complemente os esforços das agências que promovem exportações. Esse é o espaço em que podem operar as desenvolvedoras de oportunidades internacionais [[Nos próximos artigos, apresentaremos características dessas desenvolvedoras e exemplos de como enfrentar oportunidades externas com empreendimentos inclusivos.]] .
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