O paí­s que queremos e os jovens em situação de pobreza

Uma área crítica da realidade da América Latina são os milhões de jovens que não estudam nem trabalham. Resolver este tema faz o país que queremos para o futuro próximo.Um dos grandes eixos da situação social na América Latina radica, sem dúvida, no drama muito forte que hoje sofrem milhões de jovens de 16 a 24 anos que não estudam nem trabalham. A resolução deste tema é a chave para compreender que países queremos para os próximos anos.

Aqui parece se encontrar um dos desafios mais complexos. Quando se fala de jovens que não estudam nem trabalham, referimo-nos a jovens que diretamente não fazem nada, ou que entram e saem do trabalho e da escola com muita frequência, ou seja, não logram se sustentar nem no sistema laboral, nem no sistema educativo.

Em grande parte da América Latina, a taxa de desemprego aberto resulta maior para os intervalos de idade compreendidos entre os 15 e os 29 anos e decresce conforme avança a idade da população. As mulheres jovens se encontram em uma situação ainda maior de desvantagem com respeito aos homens jovens, com taxas de desemprego da ordem de 23% para o intervalo entre 15 e 19 anos e de 17% entre 20 e 24 anos.

O problema dos jovens não se vincula com a aprendizagem de tarefas, mas sim com dar-lhe continuidade. O problema dos jovens pobres não é entender o que se faz no trabalho, mas sim ir trabalhar todos os dias por 8 horas em um esquema onde muitos nunca viram nem seu pai nem seu avô trabalharem.

Este problema também se cruza com o dos vícios e das aglomerações: o ciclo nos grandes centros urbanos é o de um jovem que começa estando em uma casa muito cheia e, por isso, vai até a esquina porque há mais lugar e melhores condições. Na esquina começa a consumir, porque todos consomem, e assim começa a se endividar. O ciclo aglomeração-consumo-endividamento se completa com a posterior estigmatização feita por grande parte da sociedade marcando este jovem como o culpado por sua insegurança. A isso deveria se agregar a alta porcentagem de gravidez adolescente que reproduz o esquema de aglomeração e volta a complicar as coisas.

É necessário um grande acordo social e um plano massivo que ponha a ênfase na inclusão de jovens e que, além de incluir – o que já está sendo levado em frente em nossos países com programas de bolsas e apoio econômico – incorpore também uma rede de tutores confiáveis para os jovens.

Os jovens só acreditam nos que vêem cotidianamente; não respeitam tanto as instituições quanto a pessoas específicas: uma professora legal, um garoto da esquina, uma referência na vizinhança, algum técnico de clube de bairro. Trata-se de potencializar uma rede de tutores que os jovens sintam que não lhes vão faltar e que poderão ajudá-los a se manter em sua tarefa laboral ou na escola. Aqui é essencial o papel das organizações sociais, que têm legitimidade entre os próprios pequenos por seu trabalho nos bairros.

No mesmo sentido, é necessária uma reforma do sistema educativo que revise os objetivos do ensino médio e do nível superior e os alinhe com os setores produtivos estratégicos.

Certa flexibilidade do sistema poderia permitir incorporar os jovens que hoje se encontram fora do esquema educativo. Se um jovem de 15 anos que saiu do sistema educativo volta a cursar com crianças de 11 anos na mesma sala de aula, a situação se torna inviável para os pequenos e para o mesmo docente e termina inexoravelmente em um novo abandono.

Reconhecer saberes prévios e dar oportunidades mais adaptáveis a cada realidade para terminar o ensino médio parece uma questão fundamental para lograr que os jovens tenham mais oportunidades no mercado laboral. Nos últimos anos houve avanços em escolas técnicas e o desafio agora parece ser como flexibilizar o ensino médio sem perder o nível pedagógico, enfatizando a possibilidade de montar programas específicos para as distintas realidades.

O contexto internacional segue oferecendo uma situação favorável para a economia da região. Os grandes mercados emergentes seguirão demandando bens que nossos países produzem. Este vento de impulso nos brinda com a possibilidade de realmente dar uma volta na situação social da América Latina. O desafio requer o compromisso de todos.

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