Dez mandamentos para evitar as crises sistêmicas

O significado da palavra mandamento se refere a um “preceito de ordem de um superior a um inferior”, e é nesse sentido que valeria considerar uma lista de preceitos e ordens surgidos dos interesses, necessidades e emoções dos povos para orientar a ação dos que dirigem as instituições políticas e econômicas, tanto globais, como nacionais.
Não deveria surpreender a eclosão de novas crises sistêmicas neste século XXI; a atual teve primeiro epicentro nos Estados Unidos e agora na Europa. Está claro que, com um rumo e uma forma de funcionar que conduzem quase inevitavelmente à destruição ambiental, a uma crescente concentração de ativos e ingressos, à primazia do financeiro sobre a economia real e a uma ignominiosa desigualdade social, reproduzem-se, cada vez com maior virulência, situações de instabilidade e insegurança dentro dos países e em nível global.

Faz tempo que viemos com um rumo equivocado e um funcionamento não sustentável, mas agora se somaram dois elementos que catalisaram o processo: a globalização e a aceleração contemporânea. Talvez, com muito esforço e tão só temporalmente, ambos os fatores poderiam ser em alguma medida refreados, porém, em última instância, haverá que se aceitar que vieram para ficar e, em consequência, se organizar.

Os países estão cada vez mais interconectados entre si, no político, no econômico, no financeiro, nos meios de comunicação e fontes informativas, no artístico e cultural. Isto é, estamos na era de eventuais pneumonias não só locais e nacionais, mas também globais que, em não se atuando apropriadamente, poderiam tornar-se mais severas e frequentes.

De sua parte, a aceleração contemporânea faz que devamos acomodar a forma de gerir os processos a um ritmo vertiginoso. Obriga-nos a cuidar, mais que nunca no passado, nosso rumo sistêmico para que cheguemos muito mais velozmente que antes para onde estávamos apontando, seja um muro, uma selva, um lamaçal, um deserto ou um melhor país e planeta. A liderança terá que se exercer com reflexos e sentido de oportunidade mais ágeis, respaldada por uma efetiva combinação de experiência e de abertura para incorporar inovações. Necessitaremos contar não somente com alarmes que soem quando irromper um incêndio, mas também com alertas antecipados que advirtam contra desvios imprevistos não desejados assim que despontem. Tão ou mais importante que os alarmes será respaldarmo-nos cada vez mais na prevenção.

O que se aprendeu e se conquistou ao longo do desenvolvimento da humanidade tem um incalculável valor. Será um despropósito não aproveitá-lo porque é justamente sobre essas bases que um renovado pensamento estratégico pode construir novas utopias referenciais, um novo rumo sistêmico e uma melhor forma de funcionar. Opinión Sur tem dedicado livros e artigos à análise da crise sistêmica contemporânea cujos golpes ainda se fazem sentir; ao entendimento de sua gênese e à proposição de saídas sustentáveis no econômico, social e ambiental. Estamos convencidos que os olhares do Sul, do Norte e do Oriente se complementam e que, bem entendidos, podem somar novas sinergias às que, com não poucas dificuldades, vêm emergindo desde os primórdios da História.

Nestas linhas queremos mergulhar mais além das soluções em que estamos todos, com justa urgência, focalizados. Identificar fatores que permitam prevenir novas crises e possam fazer parte de muito diversas agendas políticas e econômicas de nosso tempo.

Não existem mandamentos para evitar crises sistêmicas do tipo que parecia assinalar o título destas linhas e menos ainda que, para além da evocação bíblica, eles devem ser dez. É que está claro (deveria estar) que não haverá receitas; no máximo, critérios orientadores para reforçar nossa bússola. Não obstante, o significado da palavra mandamento também se refere a um “preceito ou ordem de um superior a um inferior” e é nesse sentido que valeria considerar a listagem que se propõe: preceitos e ordens surgidas dos interesses, necessidades e emoções dos povos para orientar a ação dos que dirigem instituições políticas e econômicas tanto globais como nacionais.

1. Abater a pobreza e a desigualdade social entre os países

2. Impedir a deterioração ambiental

3. Fechar a brecha educativa e tecnológica

4. Eliminar a corrupção e os sistemas delitivos agravados

5. Adotar formas pacíficas de resolução de conflitos

6. Superar a alienação e o consumismo contemporâneo

7. Fortalecer a governabilidade democrática assegurando representatividade e justiça social

8. Celebrar a diversidade e lutar contra a discriminação e as tentativas de homogeneizar o pensamento

9. Fechar a passagem do egoísmo, da avareza, e alentar a generosidade e a saúde psíquica

10. Manter uma permanente e sempre renovada busca de significação existencial

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