Exercer a liderança na vertiginosidade da aceleraçí¢o contemporí¢nea

Como resultado de uma combinação de forças sociais, tecnólogicas e ambientais, o mundo encara uma fase de vertiginosa aceleração que transborda os limiares de contenção conhecidos até hoje. A velocidade das mudanças1 faz com que a gestão dos complexos processos econômicos seja difícil, e isso deixa os países expostos a duros episódios de descontrole sistêmico, com conseqüências destrutivas muito sérias. Quais as mudanças que têm de ser encaradas? Como resultado de uma combinação de forças sociais, tecnólogicas e ambientais, o mundo encara uma fase de vertiginosa aceleração que transborda os limiares de contenção conhecidos até hoje. A velocidade das mudanças1 faz com que a gestão dos complexos processos econômicos seja difícil, e isso deixa os países expostos a duros episódios de descontrole sistêmico, com conseqüências destrutivas muito sérias.

Isto exige a implementação de mudanças drásticas nas formas de funcionamento; entre outras, as seguintes:

(i)Em períodos de aceleração é necessário, mais que nunca, que coloquemos o foco no rumo sistêmico, já que podemos atingir muito mais rápido o alvo empilhando os efeitos desejados e os não desejados, podendo estes últimos serem vertiginosamente traumatizantes; é preciso garantir o direcionamento, pois o que falta não é potência. Quando se fala em rumo, se fala da necessidade de especificar o tipo de sistema desejado, os resultados buscados e esperados, e a maneira de alcançá-los, incluindo o impacto ambiental deles e sua distribuição entre países e segmentos sociais.

(ii)Para evitar, e não apenas mitigar, os episódios de descontrole sistémico há que se estabelecer mecanismos mais eficazes para a regulamentação de processos. Isto constitui um aspecto essencial, mas também controverso, pois é difícil se determinar com precisão a dose exata de intervenção necessária: uma regulamentação fraca possibilita o desenfreamento, equanto o excesso de regulamentação pode acabar por sufocar as vontades;

(iii)Também é preciso desenhar alertas precoces para detectar desvios ou efeitos não desejados; os clássicos alarmes que só percebem a eclosão de um fato quanto este se produz não são suficientes, porque, num contexto de aceleração, eles não permitem que reajamos a tempo e que atuemos em função das circunstâncias; necessitamos alarmes que disparem assim que os primeiros sinais de sucessos capazes de se tornar vertiginosos forem vislumbrados.

(iv)Como a aceleração contemporânea não é un fenômeno uniforme e universal, ela acaba por agravar os processos de diferenciação; ela cria, com maior velocidade, vencedores e perdedores, tanto entre os diferentes países quanto no interior de cada país. Nas atuais circunstâncias sistêmicas é possível que surjam novos favorecidos, mas as pessoas prejudicadas costumam ser muitas mais, fato que contribui para o alargamento das maiorias atrasadas e a agudização da agitação social e internacional; com tudo isso, se afeta dramaticamente o convívio, a segurança e a própria governabilidade democrática. A aceleração exige a adoção, como dimensão crucial do novo rumo, de estratégias abrangentes que impeçam reproduzir e, mais ainda, agravar a desigualdade.

(v)A aceleração contemporânea faz com que tomemos decisões com base em informações surgidas no decorrer dos acontecimentos. Apreendemos o conhecido mais ou menos bem, enquanto o novo irrompe desafiando nosso entendimento. As súbitas mudanças das circunstâncias encurtam os tempos de reflexão e exigem rápidos pronunciamentos, aumentando as probabilidades de errarmos, de agirmos a destempo, de não percebermos a complexidade dos novos processos. Precisamos nos munir de novas bases para a análise, de enfoques diversos e livres de fundamentalismos ideológicos, abertos a apanhar os novos fenômenos, a antecipar suas conseqüências e a propor uma gama mais diversa de soluções, ajustadas às muito diferentes situações locais.

Para exercer a liderança nessas condições é preciso entender cabalmente esses e outros aspectos essencias das novas circunstâncias; saber se adaptar à velocidade e à complexidade contemporâneas; contar com equipes qualificadas e experimentadas no manejo de situações imprevistas; dispor de pilotos firmes, capazes de dirigir na vertiginosidade da aceleração e de reagir agilmente sem perderem a bússola ética, que permite conservar o rumo acordado além das manobras conjunturais.

Mas ainda há que ver se é possível diminuir a aceleração contemporânea. Se ajustarmos o rumo do sistema, talvez a velocidade passe a dar mais espaço à qualidade de vida; a velocidade crescente deixa seu rastro nas pessoas e nas organizações. No entanto, a aceleração deveria levar-nos a cuidar melhor de nossa prezada humanidade; não podemos sacrificar o meio ambiente, a justiça social, o desenvolvimento espiritual. Necessitamos espaços apropriados para nos reencontrar com nossos ritmos e capacidades, com a reflexão criativa, com a contemplação; para nos desligar da constante vertiginosidade da aceleração. Auroras, ocasos, afetos, relações, enigmas… tudo deslumbra, além das corridas e dos anseios.

Se a resistência à velocidade e à aceleração contemporâneas fosse uma sorte de missão impossível, o que estaria em jogo seria o fato de vermos como podemos canalizá-las com novas estratégias em favor do conjunto social, preservando o meio ambiente e possibilitando o pleno desdobramento de nossa essência humana, intimamente ligada à interminável busca para acrescentar significação e justiça às nossas vidas.

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